Por Ana Cláudia Rocha
Os contos de repetição têm um encanto especial, e “Vamos Passear na Floresta”, de Lia Minápoty, se destaca nesse gênero ao unir ludicidade, tradição e diversidade linguística. A obra, bilíngue, escrita em português e na língua maraguá, leva os pequenos leitores a uma jornada envolvente pela natureza, proporcionando uma experiência literária única, sobretudo para os pequenos leitores.
A história se desenrola em um cenário natural exuberante, onde uma onça é chamada para passear, sem que sua real ameaça seja considerada. O suspense e a cadência da repetição transformam a leitura em um jogo interativo, permitindo que as crianças antecipem trechos e se tornem participantes ativas da narrativa. Esse aspecto é essencial para estimular o envolvimento com a leitura e a interação com o texto desde a infância.
A riqueza da obra vai além da estrutura repetitiva. A presença da língua maraguá não só valoriza uma cultura indígena em risco de extinção, mas também amplia o repertório linguístico das crianças, incentivando o respeito e a curiosidade por outras formas de expressão. O livro ainda traz um glossário e informações sobre a língua maraguá, tornando-se um importante instrumento para estudo e pesquisa.
As ilustrações de Taisa Borges são um complemento perfeito para a narrativa, trazendo detalhes vibrantes que dialogam diretamente com o texto. A exuberância da floresta é retratada com sofisticação, fazendo com que o leitor se sinta imerso nesse universo natural.
“Vamos Passear na Floresta” é indicado para crianças da Educação Infantil, entre 2 e 7 anos, podendo ser explorado tanto por leitores iniciantes quanto em leituras mediadas por adultos. O recurso da repetição permite que as crianças memorizem trechos e participem ativamente da leitura quando esta for apresentada mais de uma vez, o que fortalece o vínculo com o texto.
Comparado a outros contos de repetição, como “O Rei Bigodeira e sua Banheira” e “Bruxa, Bruxa”, a obra de Lia Minápoty se diferencia pelo resgate e valorização da cultura indígena. A presença do bilinguismo e a abordagem lúdica fazem do livro um exemplar único na literatura infantil, sobretudo, por sua relevância em relação à tradição da cultura literária da infância e da cultura brasileira devido à sua natureza bilíngue referindo-se ao idioma managuá. A característica do conto de repetição também merece destaque ao lado da belíssima ilustração.
Ao reunir elementos de tradição oral, musicalidade textual e uma proposta bilíngue inovadora, “Vamos Passear na Floresta” não é apenas uma leitura prazerosa, mas um importante recurso pedagógico. Mais do que um conto infantil, é uma celebração da diversidade e da riqueza cultural brasileira, convidando leitores de todas as idades a se encantarem com a magia das palavras e da floresta.
Ana Cláudia Rocha é curadora da Linha Pedagógica do Grupo Movimenta.